O Vampiro Louis.

Nova Orleans.

Pergunto-me se isto seria uma forma de compensação...


Fitei o lugar inteiro. Não faz muito tempo e isso aqui eram apenas escombros, paredes cobertas de cinzas e móveis queimados. Lestat incendiara esta casa, ou mausoléu, como o mesmo costumava se referir ao lugar onde eu morava, próximo ao cemitério Lafayette, silencioso, muito apropriado para alguem como eu que se escondia do mundo. Mas agora, Lestat novamente, não poderia deixar de ser ele. Toda a casa foi reformada e o mais impressionante é que isto foi feito com austeridade e não com a excentricidade exagerada de Lestat. O tom pastel nas paredes me agrada, também os poucos moveis, ele só foi um pouco mais atencioso com relação a escrivaninha e a bela e confortável poltrona por trás dela. Fez isso porque sabia o quanto eu apreciava e ficava por horas sentado ali, lendo, algumas vezes escrevendo coisas que ninguem além de mim leria.

Acabo de voltar de mais uma viagem ao redor do mundo. Não vi nenhuma novidade, mas também não fui a procura de alguma... e o que eu procurava, um sentido para tudo isto, para o motivo de tudo acontecer de forma tão trágica em nossas existências, uma forma de diminuir minha dor e culpa, também não encontrei.

Sentei-me na poltrona e apoiei os cotovelos na mesa. Minha cabeça involuntariamente pendeu para frente como se minhas costas não suportassem mais o peso de toda a dor que minha alma carrega. E, do mesmo modo indesejado, recordei-me da noite em que os sonhos novamente, mais uma vez, foram desfeitos.

David não disse uma palavra, o que me deixou ainda mais assustado. Verdadeiramente eu preferia vê-lo furioso ao invés da expressão desamparada que a notícia dada por Lestat o deixara. Afastei-me deles na ocasião, dirigindo-me até a janela. Lá fora vi Paris perder todos os seus encantos diante dos meus olhos. Era o fim. E eu só via a escuridão. Merrick estava morta. Eu me virei e encarei Lestat, meu criador, nosso criador, novamente.

_ Você a chamou. Ela estava comigo e David aqui, mas você a chamou... - não tinha a intenção de culpá-lo, ao menos não uma real intenção, entretanto, eu estava fazendo.

_ Fiz todo o possível, mas foi o desejo dela. Aquela velha estava lá, a bruxa-mãe, madrinha de Merrick. Foram embora juntas, Louis. Não havia nada que eu pudesse fazer, eu a amava, tanto quanto vocês dois. Teria dado minha vida pela dela. Sei que ela não desejava vê-lo triste, Louis. E já o previno que agora com o meu sangue em suas veias qualquer tentativa de suicídio seria catastrófica, dolorosa e inútil. Quero que venha comigo para Nova Orleans e isso é uma ordem da qual não aceitarei recusa. Posso força-lo a isso se necessário. - a tristeza com a qual Lestat falara de Merrick comovera-me profundamente, vi que era estupidez da minha parte por a culpa nele por algo que eu fiz. Merrick estaria viva agora se eu não tivesse lhe dado o sangue. Sou o único culpado.

_ Preciso ficar só... - murmurei.

_ Não acho isso apropriado, Louis... - ia dizendo Lestat, mas David, pronunciando-se pela primeira vez, interrompeu-o.

_ Deixe o ir, Lestat. Eu mesmo preciso de um tempo sozinho, não consigo me acostumar a idéia de que jamais vou revê-la.

_ David... - sussurrei. Pude sentir sua dor naquele instante. Fizemos uma promessa no passado; não permitir que nossa presença interferisse na vida mortal de Merrick. Eu quebrei a promessa e agora ela está morta. Gostaria de dizer a ele que sinto muitíssimo e pedir que me perdoe, mas não sou capaz, não desejo seu perdão porque não o mereço.

Deixei-os lá e fui embora. Vaguei errante pelo mundo. Vaguei, vaguei e vaguei, sempre lembrando seus nomes. Sentindo ainda o gosto amargo da culpa pelas mortes de todos os que amei; Paul, Babette, Claúdia e agora Merrick. Entre os malditos, eu sou o primeiro...



De volta a Nova Orleans, fui incapaz de ir a Rue Royale e então cá estou, no mausoléu reformado por Lestat. Sem dúvida ele sabia que eu retornaria para cá, creio que nunca fui criatura dotada de imprevisibilidade. Armand diria exatamente isso de mim. Onde está Armand agora? Ainda com seus pupilos? Estará feliz? Não. Felicidade não é para nós, mas estará, Armand, suficiente bem a ponto de julgar-se feliz?Gostaria de vê-lo uma vez mais, mesmo que seja apenas para ficar ao seu lado sem nada dizer, talvez sentir suas madeixas rubras entre os meus dedos outra vez para depois vê-lo partir para um lado e eu para o outro.




Jamais me senti tão só neste mundo...

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